![]()
7 Jornal Português 12/01/21 NOTICIAS
Debate entre candidata do Bloco de Esquerda e
candidato da Iniciativa Liberal.
O último debate do espaço "A Caminho das
Presidenciais", da SIC Notícias, contou com a
presença de Marisa Matias - candidata do Bloco de
Esquerda - e Tiago Mayan Gonçalves - candidato da
Iniciativa Liberal. Mais uma vez, a jornalista Clara
de Sousa desempenhou o papel de moderadora e
começou por questionar a eurodeputada acerca do
connamento geral que foi conrmado, este sábado,
pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
É de recordar que a dirigente explicou, depois de
terminadas todas as audições em São Bento, que
o connamento será semelhante àquele que se
viveu no início da pandemia de covid-19 e que
poderá implicar o encerramento da restauração e do
comércio não-alimentar. Porém, os detalhes, deixou-
os para depois do Conselho de Ministros. Na ótica
de Marisa Matias, "há sinais preocupantes e temos
de fazer o que está ao nosso alcance", sendo que o
estado de emergência contribui para a diminuição
dos contágios, no entanto, é necessário que existam
"condições para que as pessoas possam cumprir" as
medidas de segurança, pois faltam "respostas sociais
e apoios económicos" governamentais.
Neste sentido, Clara de Sousa questionou Tiago
Mayan Gonçalves sobre as medidas restritivas que
propôs, na medida em que é de salientar que, no
passado dia 3 de janeiro, Mayan Gonçalves acusou
Marcelo Rebelo de Sousa pela "destruição social" que
acredita que o país enfrenta, sendo que adiantou que
o atual Presidente passou "um cheque em branco"
ao Governo, tendo igualmente acrescentado que o
líder "andou a partilhar 'minis' e bolas de Berlim e a
arranjar esquemas para ir para a praia. Este sábado,
o candidato que se autodenomina como o primeiro
"genuinamente liberal" não se afastou dos princípios
que costuma divulgar e, mais uma vez, salientou
que o país não suportará um novo connamento
generalizado. "Se o primeiro-ministro está a mudar
de opinião é porque algo muito grave se passa",
disse, adiantando que participará na reunião do
Infarmed com o objetivo de ouvir as opiniões dos
especialistas. "Só vou poder perceber isso a partir de
terça-feira", admitiu, não deixando de apelar a uma
"indemnização imediata às atividades obrigadas a
fechar".
Na entrevista ao jornalista João Adelino Faria,
em dezembro, Mayan Gonçalves responsabilizou
a ministra da Saúde pelas opções tomadas no
contexto pandémico, armando que a ideologia de
Marta Temido "matou gente" em Portugal devido à
"cegueira ideológica anti-privados". É de referir que
o antigo presidente do Conselho de Jurisdição da
Iniciativa Liberal culpabilizou Temido pelas então
"dez mil mortes" provocadas pelo novo coronavírus,
defendendo que "uma ministra que recusa utilizar
toda a capacidade instalada de saúde no país para
responder à pandemia não serve". Deste modo, Matias
lembrou as declarações do adversário e assumiu:
"Não gosto que se façam das mortes culpas políticas".
De seguida, realçou que discorda da ideia de que
"conseguimos controlar esta situação sem medidas",
salientando igualmente que "não se pode votar
contra o estado de emergência" como o opositor tem
feito. "Defendo o SNS, defendo que numa condição
de pandemia se devem mobilizar os privados a preço
de custo. Vejo Tiago Mayan a pedir que se mobilizem
os privados, que não haja estado de emergência, que
a atividade econímica continue a existir. Agora, se é
para dizer ao Estado que tem de indemnizar, já não
percebo porque parece uma perspetiva socialista",
avançou.
Mas o político que esteve envolvido, desde o início,
no movimento independente "Porto, o nosso Partido"
não recuou e recordou que foi o Bloco de Esquerda que
recusou o auxílio dos privados na Saúde. "Metade do
excesso de mortes que está a correr em Portugal não
é por causa da covid-19, esta situação é indesmentível
e os políticos têm de ser responsabilizados", declarou,
adicionando que "Portugal tem um valor distinto
e muito superior" de óbitos pelo novo coronavírus
quando comparado com outras nações europeias.
"Há responsabilidades políticas que têm de ser
assacadas", sublinhou, lançando farpas à oposição ao
realçar que a colaboração com os privados devia ter
sido preparada em março a "preços menores", sendo
que, atualmente, na sua ótica, "corremos atrás do
prejuízo" na medida em que "é impossível sabermos
quanto vai custar neste momento".
À semelhança daquilo que ocorreu no debate
com Rebelo de Sousa, em que o mesmo criticou "o
sonho e a utopia" do estado liberal, armando que
"os países que eram contra o estado de emergência
acabaram todos a adotá-lo", também a autora de
obras relacionadas com o ambiente e a saúde pública
demarcou-se do ponto de vista de Mayan Gonçalves.
Matias frisou que "há uma diferença de fundo" entre
ambos, pois "Tiago Mayan acha que estaríamos
melhor com uma resposta de mercado" e não está
de acordo com tal ideologia, explicitando que essa
resposta é espelhada através dos "privados que
queriam 13 mil euros por doente na primeira fase
de covid-19 e de hospitais que fecharam", referindo
que o setor público pode dar respostas ecazes "se
houver investimento".
Consequentemente, Clara de Sousa perguntou
à investigadora do Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra se os privados podem
constituir um complemento e a mesma avançou
que "há uma contradição entre o que Mayan disse
e o que a Iniciativa Liberal diz", garantindo que
"Mayan diz que quer um sistema universal, mas não
é verdade". Assim, aludiu à ADSE (plano de proteção
para a saúde destinado aos trabalhadores do Estado),
declarando que "estender este sistema a toda a gente
era estender contribuições, o que para um liberal
seria um colossal aumento de impostos" e, portanto,
Mayan Gonçalves pretende "pôr a ADSE a nanciar o
Serviço Nacional de Saúde [SNS]". É de referir que, há
dois dias, no debate com o candidato João Ferreira,
do PCP, Mayan Gonçalves destacou: “Isto é uma prova
do falhanço do Governo na gestão desta pandemia
(...) As famílias não aguentam, os jovens não
aguentam, os pequenos e médios empresários não
aguentam. Temos de fazer o que ainda não zemos:
usar toda a capacidade instalada do país, algo que
não está a ser feito por preconceito ideológico do
Governo”. Este sábado, Marisa Matias contrariou as
ideias do candidato liberal, lembrando-o de que o
SNS português é "Muito mais barato" do que aquele
que existe noutros países da Europa que Mayan
Gonçalves utiliza como exemplo.
Em novembro, entrevistado por Miguel Sousa Tavares,
na TVI, Mayan Gonçalves demonstrou que uma das
suas propostas é a taxa única, um imposto sobre o
rendimento que não é progressivo, contrariamente
ao atual IRS, realçando que a medida abrange um
limiar de exceção e, por isso, "ninguém vai pagar
mais (...) praticamente toda a gente vai pagar menos".
No debate com a candidata do Bloco de Esquerda,
justicou que Portugal é um "inferno scal" tanto em
taxas como em burocracias, o que leva a que "não
cresçamos há décadas e que estejamos a caminho
de sermos um dos países mais pobres da Europa",
salientando que "grande parte do problema disto
são as políticas scais". Assim, acolhe um período
de transição, mas também cortes onde o "Estado
está a mais", recordando que "o esforço scal dos
portugueses tem sido aumentado continuamente
ao longo das últimas décadas, as pessoas não vivem
para pagar impostos, vivem para viver a sua vida e
dar a sua comparticipação”.
A 28 de dezembro, o Grupo Parlamentar do PSD
entregou a lista de documentos, entidades e
personalidades que almeja ouvir na comissão de
inquérito ao Novo Banco, tendo solicitado audições
com 76 pessoas e documentos a 13 entidades, como
o Governo ou o Banco Central Europeu. O objetivo
dos social-democratas é descobrir a "verdade
material sobre a gestão do Novo Banco, desde o
momento da sua Resolução até aos dias de hoje".
Consequentemente, com o assunto em cima da
mesa, Matias lembrou que a instituição bancária
se converteu "num poço sem fundo". De seguida, a
eurodeputada abordou o plano de reestruturação da
TAP, criticando Mayan Gonçalves e dizendo que este
"gosta de falências e que não se importa que milhares
de pessoas vão para o desemprego", acrescentando
igualmente que "é uma companhia de bandeira, a
nossa maior exportadora e precisamos desse tipo
de empresas", não defendendo que a mesma "seja
entregue à Lufthansa". Ainda na temática do sistema
nanceiro, e questionado sobre as soluções que se
devem aplicar aos bancos que foram resgatados,
Mayan Gonçalves explicou que a moderadora está
a "criar uma alternativa sobre o que é que podia ter
acontecido", rematando que "entre 2008 e agora,
enterrámos 21 mil milhões de euros na banca",
asseverando que "signicaria muito mais ajudar as
empresas do que deixar cair o BES". Concluindo, o
candidato liberal admitiu que "estamos num país
"em que não há too big to fail", recorrendo à teoria
através da qual se justica que certas empresas,
particularmente, instituições nanceiras, são tão
grandes e interconectadas que a sua falência seria
desastrosa para o Governo e, deste modo, devem
ser apoiadas pelos governos quando enfrentam a
mesma. Sobre a TAP, Mayan Gonçalves explicou que,
a seu ver, um processo de insolvência não signica
o m, mas sim um "processo de reabilitação se a
empresa for viável". Porém, a sua armação seguinte
pareceu não se enquadrar nesta teoria. "Eu é que não
vou ser acionista da TAP", disse.
Nos minutos nais do debate, Mayan Gonçalves foi
questionado acerca da conança que tem naquele
que tem vindo a ser encarado como um novo Plano
Marshall da União Europeia, ou seja, a "bazuca"
nanceira, o pacote de recuperação de 1,8 biliões de
euros - cabendo a Portugal mais de 45 mil milhões
de euros -, um pacote que conjuga o orçamento
plurianual para 2021-2027 e o Fundo de Recuperação.
O liberal armou que se o plano for "Costa e Silva", com
a aplicação da maquia em atividades como grandes
obras públicas, não conará, contudo, defende que
esta seja aplicada em atividades como o alívio scal
aos portugueses.
Marisa Matias vs Tiago Mayan Gonçalves.
"Há sinais preocupantes e temos de fazer
o que está ao nosso alcance"